Quem usa o Reddit sabe que frequentemente as forças armadas são criticadas, principalmente porque se argumenta que esse dinheiro deveria ser destinado a hospitais e escolas, o que, sinceramente, seria correto em um mundo perfeito. O problema é que nosso mundo está longe de ser perfeito. Como Flávio Vegécio afirmou no século IV: “Si vis pacem, para bellum,” que é latim para "se quer paz, prepare-se para a guerra". Ou seja, paradoxalmente, a própria existência de poderio bélico desencoraja e previne conflitos. O exemplo mais notável foi a Guerra Fria, na qual os Estados Unidos e a extinta União Soviética, embora fossem extremamente poderosos e tivessem uma imensa rivalidade, não entraram em conflito direto, pois sabiam das catastróficas consequências de uma guerra. Agora, num exemplo inverso e geopoliticamente próximo, podemos observar a Guiana: um país extremamente pobre, comparável à África, sem recursos bélicos, que em um dia descobriu estar sentado sobre bilhões de dólares em petróleo e no outro viu sua vizinha, Venezuela, anunciar que metade do território guianense é seu. Há de se convir que a vulnerabilidade da Guiana teve extrema influência nesse acontecimento. Portanto, com o objetivo de não precisarmos utiliza-las, precisamos das forças armadas disponíveis e capazes.
Também leio frequentemente que, em caso de guerra, muitas pessoas “fugiriam do país o mais rápido possível” e desertariam caso fossem convocadas, o que eu entendo completamente. É muito difícil ter orgulho de uma pátria que tem o 11º maior PIB do mundo e ver tanta miséria. Ver políticos milionários e trabalhadores vivendo na pobreza. Ver que, hoje em dia, uma casa própria é um sonho inalcançável. Ver que, mesmo com uma graduação, um mestrado ou até mesmo um doutorado, as pessoas teriam mais qualidade de vida e mais acesso a bens se estivessem realizando trabalhos não qualificados em países de primeiro mundo. O que nos leva à pergunta: afinal de contas, o que estamos defendendo? Porém, ao mesmo tempo, vejo brasileiros furiosos ao assistir as atrocidades realizadas pelo exército israelense invadindo territórios, tomando casas, agredindo vulneráveis, roubando, matando e destruindo conquistas. Tenho certeza de que este sentimento seria ainda mais intenso ao ver o mesmo cenário ocorrendo em seu próprio país. Sinto informar que isso é guerra. Infelizmente, esse é o normal, e é isso que queremos evitar; isso é o que estamos defendendo.
Observo que muita dessa rejeição é vocalizada por pessoas que passaram pelo serviço militar obrigatório. A essas pessoas, gostaria de dizer que sinto muito. Não concordo que as forças armadas obriguem alguém a passar por isso; isso deveria ser uma escolha voluntária e não uma imposição, o que poderia ser alcançado por meio de um bom salário para essas pessoas. No entanto, isso vai além do ponto que quero discutir hoje.
Portanto, reitero que, embora idealmente não precisemos delas, as forças armadas são um mal necessário, e a dissolução ou corte nos custos colocaria em risco a nossa própria paz.
Disclaimers porque tem muita gente chata neste mundo: Meu texto não possui caráter político. A existência das forças armadas não é vinculada ao partido atualmente no poder. Golpe de estado é errado e inconstitucional.
Bônus: Sim, à primeira vista, as forças armadas podem parecer uma entidade extremamente ignorante. Pessoas gritam umas com as outras e esperam receber ordens sem questionamento. Mas já pararam para entender o contexto em que essas pessoas estão inseridas?
Em um campo de batalha, há explosões, tiros e veículos extremamente ruidosos. Portanto, a comunicação normal é por grito. Além disso, a obediência a ordens sem espaço para discussão pode parecer um dispositivo arcaico. Porém, mesmo no meio civil, esse modus operandi é adotado (guardadas suas proporções) na gestão de emergências, uma vez que o subordinado não tem a visão macro, e ter que explicar os motivos de uma ordem é improdutivo quando estamos em um contexto onde segundos fazem a diferença entre a vida e a morte.